Quadros-paisagens

Para viver um momento suspenso e reforçar a ideia de que a natureza é um museu a céu aberto.

É apenas no séc. XVI que a palavra “paisagem” aparece na língua francesa. Uma palavra que está intimamente ligada à representação do país. Com o Renascimento, a arte pictórica forjou, no mundo ocidental, o olhar estético sobre a paisagem. O artista transforma então a paisagem em tema, procurando no registo, qualquer coisa relacionada com a revelação. Com a arte, a paisagem nasce, e nasce de outra maneira: in situ e in visu, em misturas de feixes da atenção do paisagista e do olhar do artista. 

A beleza natural, esse grau zero da paisagem, atrai o olhar para existir enquanto paisagem. Para, de um espaço, fazer uma paisagem, é preciso contemplá-lo, apreciá-lo, reconhecê-lo. É preciso um distanciamento, um quadro. 

Os Quadros-Paisagens são instalados ao longo de um percurso balizado. Elas apelam à atenção do caminhante, propõem uma paragem, um momento para concentrar a sua atenção sobre uma parte ínfima dos espaços percorridos: um panorama, um cepo de árvore, um prado. 

O quadro é uma moldura em talha dourada – homenagem à arte barroca – colocada sobre um pé alto. Em frente ao Quadro-Paisagem, um toro de madeira fixo convida a sentar-se. Prendemo-nos então a uma parte do espaço envolvente, enquadrado, recortado numa forma; o quadro faz de paisagem. O caminhante torna-se contemplador; nessa imobilidade provisória, ele aproxima-se da concentração do paisagista, do olhar do artista. A atenção é focalizada; é o início de uma escrita. 

Para enriquecer ainda o dispositivo, é colado um cartão por baixo da moldura, no qual será inscrito um haiku, uma mensagem ou uma micronarrativa. Nada de descritivo. Um murmúrio poético, uma palavra de cumplicidade entre o caminho e o caminhante.

 

Este dispositivo faz parte de COSMOLANDS, uma instalação articulada de acordo com vários princípios; todos estão ao serviço de uma apropriação e de uma dinamização dos lugares de vida. Agimos no centro das cidades, sobre os muros esquecidos pelo olhar, sobre os passeios onde fazemos as compras, sobre as linhas de escrita das passadeiras, ao longo dos caminhos de montanha, em plena floresta, nos museus, nas igrejas, nos salões de festa. Ajudar a viver, eis o principal desafio de COSMOLANDS. Ajudar a viver o seu espaço, viver a sua memória, viver o corpo social ao qual pertencemos. Para fazer nossa uma citação de Pina Bausch: a nossa ação pretenderia inventar momentos de amor puro.